Sensibilidade

Pauta fotográfica com os alunos da E.E. Italo Betarello, na sala de leitura.Data: 21/09/2015. Local: São Paulo/SP. Foto: Diogo Moreira/A2img

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Especialista em Cirurgia Oncológica e Oncoginecologia, a médica Marilene Madsen escreve desde adolescente e já tem dois livros publicados

Mais do que diversão: médica encontra na literatura o caminho para a expansão de si mesma

A médica oncologista  Marilene Madsen nem se lembra de quando a literatura começou a fazer parte da vida dela. Quando questionada sobre isso, a resposta é simples: “Passei a minha vida lendo”, afirma.
“Parte de minha juventude vivi em um conservatório. Escrevia cartas e pequenas histórias que se perderam no tempo. O mundo real era apartado, pois a música e a leitura me levavam a outros lugares. Deixei isso tudo pela medicina, foi outro mergulho em diferentes águas”, conta.
O caminho de volta para a literatura aconteceu depois da passagem de Marilene por uma companhia de teatro-dança. Com o objetivo de praticar exercícios, ela começou então a dançar. Gostou e ficou. Trabalhava de dia e ensaiava à noite, trabalho que resultou na participação em cinco divertidos espetáculos lúdicos. “Foi uma curtição! Até que o nosso mentor foi embora para a Espanha e o grupo se desfez. Passou a febre de artista e recomecei a escrever aos poucos, com o objetivo de publicar há quatro anos”, confessa.
Os textos iniciais foram “bobagens, fantasias”, diz Marilene. O primeiro escrito considerado pela médica foi “A espada de Dâmocles”, publicado pela revista do Graciosa Country Club.
A vida corrida, dividida entre o consultório médico e as salas de cirurgia, não impediu Marilene de continuar escrevendo. Ela já tem dois livros publicados, o primeiro é chamado “Terceiro fator – O segredo Drull”, e foi elabora-do em coautoria com Celito Bonetti, artista piracicabano.

“Levamos dois anos de e-mails e muita diversão, criando um planeta, um povo, cidades, sociedades, mapas, romances e desastres. É um livro bastante complexo”, assegura.
O segundo é um livro de contos, que tem o título de “Contos Impossíveis”. São histórias contadas por um olhar feminino e revistas pelo lado masculino. Segundo Marilene, o resultado ficou interessante e marca a diferença entre homens e mulheres. “Nesse momento de confusão de gêneros, ilustra que há pensares peculiares a cada um”, avalia.
Marilene garante que não há uma temática fechada para seus textos. Para ela, o ser humano é rico, seus sentimentos borbulham, suas atitudes direcionam sua vida. “Isso é o que faço: conto suas angústias, suas dores, suas alegrias, suas contradições”, complementa.
Além disso, a médica se mostra bastante aberta sobre seu estilo de escrita. Segundo ela, mudar de opinião e direção sempre deve ser possível e não nos cabe ficar plantados em nossas “certezas”.
Contadores de histórias, como o catalão Ildefonso Falcones e a italiana Elena Ferrante, estão entre os favo-ritos de Marilene, que hoje em dia tem sido bem seleta com suas leituras.
“Um amigo me disse uma vez: ‘Se começo a ler deter-minado livro e não gosto ou não me interessou o assunto, deixo-o de lado. A vida é curta e há muitos livros para serem lidos. Leio o que me dá prazer’. Eu nunca fazia isso, teimosamente persistia até a última página, mesmo sofrendo, às vezes. Depois disso, repensei. Sabe que ele tem razão?”, reflete.
Elena Ferrante, por exemplo, tem sido uma companhia constante para a médica. A escritora nascida em Nápoles é sucesso de público e de crítica, sendo sua obra composta por romances complexos e encantadores. Os quatro livros da autora formam uma única história sobre a amizade de duas mulheres: Elena Greco e Rafaella Cerullo. O trabalho da italiana é fonte de inspiração para Marilene.
“Desde que li os livros, parei para refletir. Ela diz que ‘quem escreve não deve ter temores nem pudores’. Pois é. Eu tinha pudores…e temores também. Joguei-os todos para cima e escancarei meu coração. Meus personagens, ficcionais ou não, buscam a verdade, não importa qual seja ou onde esteja. Estou gostando”, afirma.
A literatura é um hobby com espaço garantido na vida da médica oncologista, assim como o yoga e a academia. Ela conta que com o passar dos anos, aprendeu que cada coisa tem um lugar e que existe um lugar para cada coisa. Além disso, Marilene assegura que escrever não precisa ser com hora marcada. “Bastamos meu laptop e eu. Onde? Não importa. Quando? Quando eu o abro”, diverte-se.
Sobre o futuro, a médica dá uma ótima dica: “Meu novo livro deve sair ainda este ano. Planos? Viver. Rir. Aprender a vida…”. 

Contos ___capa aberta
A obra reúne 20 histórias contadas pelo olhar feminino e revistas pelo ângulo masculino
terceiro-fator
No livro Terceiro Fator, a médica mostra toda sua criatividade ao escrever sobre uma civilização futurista, diferentes povos, segredos e amores
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