Hipnose: muito além da regressão a vidas passadas

Hipnose
(Foto: Ilustração/Freepik)

Esqueça os relógios balançando em pêndulo e as mãos que “colam” involuntariamente: a hipnose vai muito além dos “truques” que levam à diversão e ao entretenimento. Ainda tomada por tabus – que vão desde à ligação com determinada religião ou o receio de cair na mão de “charlatões” – a hipnose clínica atua diretamente na resolução de questões emocionais como traumas, depressão e ansiedade.

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O hipnoterapeuta Renato Martinelli, que atua em Curitiba, explica que a hipnose é uma ferramenta poderosa no tratamento de dores emocionais e físicas, reconhecida pelos conselhos de odontologia, psicologia, medicina, fisioterapia e enfermagem, e é indicada como prática integrativa pelo SUS – Sistema Único de Saúde. “A hipnose pode contribuir em questões emocionais como traumas, depressão, gagueira, vícios, ansiedade, luto, fibromialgia (que é uma dor sem causa física), parto (mais tranquilo e sem dor), alergias e diversas outras”, pontua.

O processo de hipnose

Como explica o profissional em seu consultório, a hipnose é um processo natural cognitivo da mente, e pode ser atingido de forma natural ou induzida. “Através da mudança de percepção é possível mudarmos um estado dentro de nós. Mudando este estado, mudamos como percebemos não só a nós mesmos, mas também o mundo a nossa volta”. 

No caso da hipnoterapia, há a busca pelo que o paciente deseja, ou seja, a mudança tem que estar alinhada ao que a pessoa busca. “Na hipnose clínica, temos que descobrir dentro do paciente o que faz ele ser assim, e mudar esta percepção de dentro para fora. Uma vez que isto é feito e ele encontrou dentro dele mesmo as respostas, a mudança é efetiva, pois aí não estamos apenas nos sintomas”, completa.

O que acontece ao entrar em “transe”

Uma das principais curiosidades acerca do tema é o momento em que o paciente é hipnotizado. Afinal, é possível lembrar de tudo que foi dito e feito quando a sessão encerra? E se ficar preso dentro do “transe”? Martinelli explica que, apesar de comuns, essas preocupações são infundadas. “Não existe risco na hipnose, pois ela é um processo natural da mente em que entramos de forma leve por diversas vezes ao dia: quando vemos um filme, quando dirigimos, quando estamos apaixonados…”, exemplifica.

Aliás, é muito raro um paciente não lembrar do que foi dito ou feito durante a sessão de hipnose. Apesar de manter os olhos fechados e concentrar-se nos comandos do profissional, a pessoa está consciente o tempo todo e, inclusive, pode até mesmo escolher não falar determinadas coisas para o hipnoterapeuta que está conduzindo o processo. “A hipnose é apenas uma ferramenta. O que pode ser perigoso é quem conduz o processo, por isso é importante sempre procurar recomendações e pessoas que tenham ética e, principalmente, que conheçam a ferramenta para usa-la da melhor forma possível”, reforça Martinelli, ao lembrar que no caso da hipnose clínica, o paciente acessa traumas e pode experimentar emoções fortes.

Todo mundo pode ser hipnotizado?

“O hipnotizador é apenas um guia, e toda hipnose é uma auto hipnose”, reforça Martinelli. Então, sim, qualquer um pode ser hipnotizado, desde que haja comunicação entre paciente e profissional. O que pode prejudicar o processo, de acordo com o hipnoterapeuta, é o fato de o paciente optar por não seguir as instruções dadas e, dessa forma, não se permitir passar pela experiência. “Como todo o processo é feito pelo próprio paciente, se ele tiver medo ou receio, consequentemente não irá seguir as instruções, e isso faz com que ele não se permita ser conduzido. Por isso, é tão importante antes de todo processo ser muito bem explicado como a hipnose funciona, tirar todas as dúvidas, medos e crenças erradas em relação ao que é hipnose”.

Martinelli destaca, ainda, a importância de ter confiança no profissional responsável por guiar o processo.

A hipnose se baseia em alguma religião?

Não importa sua crença religiosa: a hipnose não tem ligação como nenhuma religião, sendo baseada completamente em ciência. De acordo com o hipnoterapeuta, essa confusão acontece principalmente pelo fato de as pessoas ligarem a hipnose à regressão. “Quando pensam em regressão, sempre pensam em vidas passadas, e isso não é sempre verdade – ao menos não para todos. Se você parar para pensar o que comeu no almoço, de certo modo você já fez uma regressão. A regressão a vidas passadas pode também ser uma metáfora, uma forma de expressão”, explica.

Regressão a vidas passadas e outras técnicas

Como pontua Martinelli, a regressão a vidas passadas é apenas uma das técnicas de hipnose utilizadas durante um tratamento. “Sem dúvida, por vezes a regressão é uma técnica excelente e quando usado no caso correto e de forma apropriada traz excelentes benefícios de forma rápida. Porém, além da regressão, a hipnose pode utilizar de diversas técnicas, seja da psicologia, da psicanalise, da PNL (Programação Neurolinguística), da TCC (terapia cognitiva comportamental), entre outras”.

Por fim, o hipnoterapeuta lembra que, mais importante do que a técnica empregada, é a conexão entre o profissional e o paciente. “Ao final, quando nosso paciente sai com o que busca, o que menos importou foi a técnica usada, mas sim, a melhora que ele teve”, completa.

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