Desafio para o ânimo

Desafio para o ânimo

Sentimentos e emoções negativas têm se tornado cada vez mais comuns entre a população, provocando ansiedade e depressão

O medo do contágio do novo coronavírus, o crescimento do desemprego, a crise na saúde e a falta de contato com amigos e familiares está tirando a paz de muita gente durante a quarentena. Sentir angústia, tristeza e preocupação é normal para qualquer ser humano diante da sobrecarga emocional provocada pelas incertezas. O grande problema é quando esses sentimentos provocam esgotamento mental, que levam à depressão e à ansiedade.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12 milhões de brasileiros convivem com a depressão, enquanto 10% da população manifesta sintomas de ansiedade.
“O ansioso carrega uma preocupação exagerada sobre situações cotidianas, e passa a não conseguir realizar atividades cotidianas. Isso é especialmente sofrível para o indivíduo que, normalmente, é caracterizado por uma pessoa ativa e, muitas vezes, acostumado a realizar várias tarefas simultaneamente”, pontua a psiquiatra Ana Paula Rosa Filgueiras.

Origem
Segundo a médica, 30% a 40% dos casos de ansiedade possuem raízes genéticas. Em outros casos, porém, o estilo de vida ou situações específicas podem desencadear tais quadros. E há a possibilidade, ainda, de questões invisíveis gerarem ‘gatilhos’ para crises.
“A ansiedade pode ser desencadeada por eventos traumáticos ou estressantes, mas também pode ocorrer sem gatilhos visíveis. Nesse sentido, é necessário analisar caso a caso para uma abordagem mais assertiva”, comenta.

Sintomas
Ana Paula explica que, na ansiedade, o corpo se prepara, continuamente, para uma situação de defesa sem que haja o gatilho de um perigo real, desenvolvendo sintomas que podem atrapalhar o cotidiano do indivíduo. Nesse momento, podem ser cultivados, por exemplo, pensamentos negativos, geralmente catastróficos, como se algo ruim estivesse sempre na iminência de acontecer. Os sintomas podem, inclusive, ser físicos, como taquicardia, dormência no corpo e sensação de falta de ar.

Consciência
Para a psicóloga Déborah Motta Souza Balduino de Oliveira, que atende no Recurso Próprio da Unimed de Cianorte, a mudança é uma parte inevitável da vida e muitos aspectos do mundo estão em constante transformação. Isso significa que uma série de decisões e acontecimentos estão fora do controle individual das pessoas. “Esse fato pode ser difícil de aceitar, porém é a realidade”, ressalta.
No atual contexto que vivemos, não é possível exterminar a existência do vírus, controlar o ritmo das mudanças sociais, recuperar imediatamente a economia ou até mesmo garantir um cheque de pagamento na próxima semana. Por esse motivo, reforça a psicóloga, quaisquer que sejam os medos ou circunstâncias pessoais, em vez de se preocupar com o incontrolável, é importante reorientar a mente para agir sobre as ações que podem ser realizadas.
“Aceitar a situação, por outro lado, pode liberá-lo para dedicar sua atenção em ações que você tem controle. Concentrando-se nos aspectos da dificuldade em que é possível agir, abre-se a possibilidade de mudar o foco da preocupação para soluções ativas dos problemas. É indiscutível que todas as circunstâncias são diferentes, em algumas situações, é necessário ter auxílio profissional para trabalhar as emoções”, aponta Déborah.

Ajuda
Nesse momento de angústia e sentimentos negativos, a respiração pode ser uma importante ferramenta para acalmar a mente. Ana Paula conta que existem técnicas simples de respiração, que podem ser realizadas em casa e são capazes de aliviar os sintomas da ansiedade – como a agitação, os pensamentos repetitivos e a dificuldade para dormir.
“A meditação, justamente por focar em uma respiração mais calma e atenta, também é uma técnica que pode mitigar os sintomas de ansiedade e diminuir os batimentos cardíacos”, completa a médica.
Já quando os sintomas de ansiedade se tornam agudos, com aumento da frequência e intensidade das crises, é necessário marcar uma avaliação médica, na qual é definido o método de tratamento mais indicado e a necessidade do uso de medicação.
De acordo com Ana Paula, essa busca deve acontecer quando a pessoa estiver em sofrimento, ou quando perceber prejuízos causados pela ansiedade na sua rotina. “Quando, por exemplo, a ansiedade afeta a execução do seu trabalho ou a qualidade dos seus relacionamentos”, diz.

Avanço
De acordo com Patrícia Olivo Poiani, psicóloga que atua no Centro APS da Unimed Paraná e especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, existe a possibilidade de o paciente ansioso desenvolver outros transtornos, como depressão, por exemplo.
“É comum que a pessoa com transtorno de ansiedade possa sentir-se triste e a pessoa com depressão possa sentir-se ansiosa”, diz.
Em alguns casos, de acordo com a profissional, embora os sintomas possam se confundir ou até se manifestar ao mesmo tempo, a ansiedade e a depressão “são transtornos diferentes, sendo cada um com causas, sintomas e tratamentos específicos e diferenciados”.
Segundo Patrícia, a busca por atendimento, acolhimento e orientações tem aumentado nesse período. Ela destaca que a terapia é um processo de autoconhecimento, e pode ser extremamente benéfica nesse momento de crise.
“O indivíduo vai aprender a identificar os desencadeadores da sua ansiedade e desenvolver ferramentas cognitivas e comportamentais para o gerenciamento das emoções e enfrentamento dos eventos estressores”, assegura.

Sintomas da ansiedade

Autonômicos: palpitação, taquicardia, sudorese, náusea, vômito e diarreia
Musculares: tremor, tensão muscular, dor no corpo, dor no peito em pressão
Cinestésicos: calafrios, ondas de calor e frio, dormência nas extremidades e no rosto
Respiratórios: sufocação e sensação de falta de ar;
Psíquicos: tensão, nervosismo, apreensão, dificuldade em se concentrar, despersonalização (sensação de distanciamento do próprio corpo), desrealização (sensação de que o que está ao redor não é real).

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