Compulsão alimentar: o preenchimento de um vazio emocional

(Foto: Pixabay)

Ataques noturnos à geladeira cada vez mais frequentes, dificuldade em parar de comer mesmo quando está saciado, necessidade de se alimentar mesmo sem sentir fome… essa é uma rotina comum para pacientes que sofrem com o transtorno de compulsão alimentar. A culpa, a vergonha e a tristeza são sentimentos que andam lado a lado com essa doença mental que, se não controlada e tratada, pode gerar problemas maiores de saúde, como a obesidade e o diabete.

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A alimentação, como explica a psicóloga Eloise Tonon Francisconi (CRP 08/23972), da Unimed Londrina, vai além da saciedade física e da sobrevivência: envolve, desde o contato com o leite materno, diversos sentimentos. “Quando nascemos, um dos primeiros contatos com o próximo é no nutrir. A mãe oferece o leite ao seu filho em um ato cheio de troca, com olhares, carinho e apego. A atitude de se alimentar representa para o ser humano não só uma questão biológica, mas também psíquica”, define.

O prazer em comer x a compulsão alimentar

O prazer em comer determinados pratos, como uma boa pizza ao domingo ou um sorvete em dia de calor, faz parte da sensação de felicidade que nós, humanos, necessitamos e buscamos. Deslizes em meio a dietas e exageros pontuais não configuram o transtorno, por exemplo. Aqui, o problema é muito mais sério. “Nos referimos a uma necessidade de comer, mesmo quando não se está com fome, pois o sujeito continua a ingerir comida mesmo quando já está saciado”, explica Eloise.

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O descontrole passa a ser frequente e, em casos extremos, é ingerido mais alimento do que o próprio corpo suporta. “Pacientes compulsivos relatam a perda de controle, dizem que repetem e repetem, sem conseguir parar. Muitos continuam a comer até o estômago não suportar mais a quantidade de comida e, então, vomitarem”.

Sintomas de pacientes compulsivos

Para o diagnóstico de compulsão alimentar, a psicóloga afirma que o ato de comer, para o paciente, deve envolver tais sintomas:

  • Compensação rápida e o alívio de outros sintomas que não a fome;
  • Perda de controle;
  • Ingestão de alimento em grande quantidade (mais do que o próprio organismo suporta) em um período de até duas horas, com pelo menos dois episódios semanais de crise compulsiva;
  • O indivíduo come mais rápido do que o normal;
  • Sentimento de vergonha e culpa. O paciente passa a se alimentar sozinho, sente angústia após os episódios de compulsão;
  • Sensação de inadequação social;

Além disso, Eloise lembra que todos os sintomas podem, ainda, se agravarem para um quadro depressivo.

Compulsão alimentar pode ter origem no estresse e na visão corporal

A forma como o paciente enxerga o próprio corpo, questões emocionais como depressão, ansiedade e estresse e, ainda, fatores biológicos como uma falha no hipotálamo, podem funcionar como “gatilhos” para que o paciente desenvolva o transtorno de compulsão alimentar. “Alguns estudos relatam, ainda, que as dietas rígidas podem ser agravantes do quadro, pois suas grandes restrições levam as pessoas a terem impulsos para comer. Isso, por sua vez, pode levar à compulsão alimentar”, reforça Eloise.

Quando a raiz do problema está em questões emocionais, a psicóloga explica que o compulsivo busca na alimentação uma sensação de conforto e amparo, dando a falsa e temporária impressão de alívio. “A dificuldade em expressar os próprios sentimentos pode guiar para tal quadro, no qual a comida exerce o papel de calar as emoções. Através da busca pelo prazer oral, seguido de preenchimento de um vazio emocional, o alimento faz o papel de compensador emocional”.

Já no fator biológico, a falha do hipotálamo pode causar o problema, já que, nestes casos, ele deixa de informar ao cérebro sobre a fome e a saciedade, assim como a anomalia na serotonina, neurotransmissor que atua, entre outras funções, na inibição do apetite.

A busca por tratamento

Para um tratamento eficaz, a psicóloga recomenda a busca por uma equipe multidisciplinar: médico endocrinologista, nutrólogo, nutricionista, psiquiatra e psicólogo, além de um local para realização de atividades físicas. “Durante o processo, o psicólogo irá auxiliar seu paciente a diferenciar fome física de fome emocional, provendo uma conscientização do real motivo que o leva a se alimentar, quais as emoções que estão envolvidas nesse ato, e o ajudará a lhe dar de maneira mais saudável com as próprias emoções”.

Mudança no estilo de vida

Além do acompanhamento profissional, Eloise indica que o compulsivo procure mudar, mesmo que aos poucos, o estilo de vida que segue. “É importante praticar exercício físico, ter um bom convívio social, implementar a qualidade de vida, regular o sono, trabalhar a autoestima e o autoconhecimento para,  sobretudo, compreender que existem outras formas de contentamento além da alimentação”, finaliza.

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