Choosing Wisely Brasil: qual o melhor caminho?

Choosing Wisely Brasil: qual o melhor caminho?

Conheça a iniciativa que discute a medicina baseada em evidências com objetivo de promover maior segurança aos pacientes

Comportamento assistencial mais seguro para os pacientes e menos oneroso para o sistema. Essa é a condição natural conquistada a partir do exercício reflexivo das decisões clínicas proporcionadas pela Choosing Wisely Brasil (CWB), que na tradução livre é a busca por escolhas mais sábias. O movimento consiste em um grupo de profissionais de diversos segmentos da saúde que desempenha o papel de instigar sociedades de especialistas, profissionais assistenciais, escolas de saúde, instituições hospitalares, clínicas, cooperativas e planos de saúde a debaterem o assunto e produzirem sugestões de listas de recomendações.
De acordo com o médico Paulo Paim, coordenador do Programa de Medicina Hospitalar e diretor clínico do Hospital da Cruz Vermelha Brasileira, coordenador dos Serviços de Cuidados Paliativos do hospital São Vicente e um dos coordenadores nacionais da Choosing Wisely Brasil, atualmente existem milhares de artigos científicos no mundo mostrando a mudança comportamental de profissionais assistenciais e pacientes que exercitam a reflexão Choosing Wisely. “Os resultados de tais intervenções mostram redução da solicitação de exames desnecessários e de intervenções fúteis, inclusive redução de dano quaternário a pacientes, e também consequentemente uma maior equidade na distribuição dos recursos. Lembrando que não é objetivo da força-tarefa reduzir custos ou cercear a prática assistencial em saúde”, explica.
Segundo lembra Paim, os problemas e desafios para a evolução da qualidade e da segurança na saúde suplementar do Brasil são muitos e complexos. Nesse sentido, a iniciativa CWB não se propõe a resolvê-los, já que são multifatoriais, no entanto “dedica-se a provocar o pensamento de quem oferece e de quem recebe serviços de saúde a entenderem o pensamento probabilístico e os benefícios reais e riscos inerentes presentes em cada teste e cada intervenção ordenada”, analisa. Dessa forma, profissionais e pacientes tendem a tomar decisões compartilhadas de forma mais sóbria, com menor chance de exacerbar os benefícios e reduzir os riscos no momento decisório.
“Acredito que o tema tenha ganhado relevância nos últimos anos por estarmos navegando sem direção rumo a um sistema insustentável e danoso, que gasta muito e causa muito dano desnecessário, simplesmente por fazermos as coisas medularmente, sem analisarmos, sem utilizarmos pausas reflexivas, sem calcularmos os riscos e benefícios de nossas ordenações de forma sistemática”, analisa.
Na análise de Paim, os médicos estão procurando se familiarizar com a era moderna da medicina, em que os pacientes já entram nos consultórios ou no hospital com conhecimentos garimpados na internet ou mesmo com exaustivas pesquisas prévias na literatura médica, participando de forma proativa da decisão clínica conduzida pelos profissionais, considerando suas experiências e expertise. Dentro desse contexto, decisão clínica compartilhada não consiste em deixar o paciente livremente escolher seus produtos, mas sim guiá-lo por um porto seguro, orientando-o sobre as consequências possíveis positivas e também negativas de determinadas escolhas.
“Concluo que somente a informação ampla, ética e respeitosa entre profissional e paciente pode nos conduzir a uma saúde com menor risco de dano desnecessário e a um sistema mais sustentável”, finaliza Paim.

Listas de recomendações
Aos poucos as sociedades de especialidades vêm debatendo o tema em seus congressos e lançando suas listas, assim como hospitais e instituições prestadoras. Dessa forma, levando ao conhecimento das pessoas e, consequentemente, capilarizando suas premissas.
Na opinião de Paim, para acontecer a reflexão Choosing Wisely de forma massiva na saúde brasileira é necessário que os profissionais de saúde estejam abertos a confrontar paradigmas seculares presentes em seus pensamentos, nas expectativas de pacientes e da sociedade como um todo, e no fisiologismo do mercado-saúde. “Sabendo que a reflexão deve acontecer de forma natural e sólida, por meio do diálogo, do empoderamento dos leigos (consumidores de serviços de saúde), fazendo-os entender que tais recomendações são sugeridas para protegê-los de danos não-intencionais gerados pela sobreutilização dos recursos desnecessários em saúde”, reflete.

Dr. Paulo Paim, um dos coordenadores nacionais do Choosing Wisely

O RISCO DO EXCESSO

A expressão Choosing Wisely (CW) foi cunhada em 2012, nos Estados Unidos, em uma união de esforços entre médicos e pacientes para alavancar uma campanha voltada à revisão das práticas assistenciais em saúde, no sentido de buscar recomendações que auxiliassem os profissionais em suas tomadas de decisões clínicas, capazes de reduzir a sobreutilização de testes e intervenções popularmente utilizadas e amplamente indicadas que, no entanto, não demonstravam benefícios conforme análise pautada na medicina baseada em evidências.
Como essas recomendações deveriam vir dos médicos para sociedade, a American Board of Internal Medicine (ABIM) liderou a iniciativa recomendando que as sociedades de especialidades se reunissem em consensos e fornecessem, após amplo debate criterioso, de cinco a dez recomendações a serem amplamente divulgadas entre profissionais e pacientes. Após 2012, a iniciativa CW organizou-se rapidamente em diversos países europeus e, finalmente, em vários países do mundo, sendo atualmente uma iniciativa internacional em constante construção.
No Brasil, em 2015, lideranças médicas propuseram-se a implementar a iniciativa e, em outubro de 2016, aconteceu, em Curitiba, o 1º Encontro Científico Choosing Wisely Brasil partindo com listas de recomendações já confeccionadas pelas Sociedades Brasileiras de Cardiologia, de Medicina de Família e Comunidade e pela Academia Brasileira de Medicina Hospitalar. Em 2017, novas listas foram lançadas.
Para mais informações: https://www.facebook.com/choosingwiselybrasil 

 

SHARE