Atenção Primária à Saúde

Atenção primária à saúde

Bertrand Edward Dawson publicou em 1920 relatório, a pedido do Ministro da Saúde britânico, para “considerar e fazer recomendações quanto ao esquema ou esquemas necessários para a provisão sistematizada de tais formas de serviços médicos e afins, como deveria, na opinião do Conselho, estar disponível para os habitantes de uma determinada área”.

Eram recomendados serviços estruturados de forma primária, secundária e terciária, distribuídos de acordo com as necessidades da comunidade dos distritos, englobando medicina preventiva e curativa, contando com clínicos gerais (os GP ou general practitioners) e corpo de enfermagem eficiente; frisava que os serviços médicos e afins estivessem disponíveis para todas as classes, e ressaltava que estar disponível não significava serviços não pagos, gratuitos.

Lord Dawson mostrava outro caminho em 1920, diferente dos aspectos, então em voga, de especialização, tecnificação, individualismo e o hospital como centro do sistema de saúde. Sua percepção sobre as formas de atendimento colocava o indivíduo e sua saúde no foco das atenções ao reconhecer as necessidades da comunidade e disponibilidade dos serviços.

No Brasil existe a percepção de algumas pessoas de que atenção primária à saúde está relacionada ao termo “primária”, considerando-a como algo elementar, rudimentar (definições encontradas no dicionário Aurélio). Entretanto, outra definição indica que primária é o que antecede outro, primeiro. Esse é o contexto de primária a partir do Relatório Dawson: primária no sentido de ser o primeiro contato da população com os serviços de saúde, o que antecede, precede qualquer outro contato de qualquer outro nível. Primária, porque o médico de família (ou os GP ingleses ou em qualquer outro país que tenha atenção primária em seu sistema de saúde) será a primeira pessoa com quem o paciente apresentará sua condição de saúde, sua trajetória, eventuais tratamentos e demais problemas vinculados.

O que vemos é a distorção do sentido de “primária” como sendo uma ação rudimentar, em contraste com o sentido eminentemente de primeiro contato. Tal associação entre primária e rudimentar serve para outros propósitos, como a desqualificação do modelo APS no Brasil, transformando-o em modelo eminentemente voltado para a população de baixa renda, dos desassistidos e todos que vivem na e abaixo da linha de pobreza, situação atendida, total ou parcialmente, pelo Sistema Único de Saúde, sendo esse outro fator para desqualificar APS na saúde complementar: sistema voltado para atendimento aos pobres.

Como vivemos em um mundo fortemente influenciado pelas estratégias de marketing e propaganda em que possuir um plano de saúde privado é uma vitória para poucos, a introdução de APS (sistema dos “despossuídos”) na saúde suplementar não seria uma boa tática de vendas para planos privados, retardando a introdução de um modelo bastante utilizado em algumas das maiores economias mundiais, enquanto o Brasil fica na contramão para uma efetiva implantação.

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