As emoções criam formas

Emoções e formas
(Foto: Ilustração/Freepik)

“Sentimentos e emoções, hormônios, corpo e consciência, todos mudam de formas e falam muitas línguas”

O psiquiatra contemporâneo e discípulo de Freud, Wilhelm Reich, foi um dos primeiros a falar das couraças que o ser humano cria. Elas nada mais são do que tensões musculares, formadas para proteger o corpo contra impulsos emocionais dolorosos oriundos da sua própria personalidade. Essa energia bloqueada impede a tensão saudável das emoções originais, desviando o funcionamento natural e estimulando uma condição de conflito: doença no corpo físico e neurose no corpo emocional.

Inteligência emocional: quando os pensamentos nos adoecem

O que isso significa, na prática? A enfermidade, cada vez mais, vem sendo entendida em seu aspecto amplo. Reconhece-se que ela nunca é um evento isolado. Pelo contrário, está relacionada a vários aspectos, o que inclui o estilo de vida da pessoa, assim como determinadas características físicas e emocionais. Tudo isso, no entanto, se retroalimenta, de tal forma que é capaz, inclusive, de nos moldar fisicamente…  Afinal, é a própria pulsação da vida, aquilo que alguns chamam de energia vital, que move a substância física. E tudo o que acontece ao homem, seja em nível psicológico, mental ou emocional, é uma manifestação desse movimento energético. É por isso que a camada invisível do corpo – líquidos, sentimentos, hormônios e emoções – ajuda a moldar formas.

De acordo com o pesquisador Stanley Keleman, autor do livro Anatomia Emocional, “a vida produz formas. Essas formas são parte de um processo de organização que dá corpo às emoções, pensamentos e experiências, fornecendo-lhes uma estrutura. Essa estrutura, por sua vez, ordena os eventos da existência. As formas evidenciam o processo de uma história protoplasmática que caminha para uma forma pessoal humana (…) a forma da pessoa será moldada pelas experiências internas e externas de nascimento, crescimento, diferenciação, relacionamentos, acasalamento, reprodução, trabalho, resolução de problemas e morte”.

Stanley enfatiza que as emoções e os sentimentos se comportam como a água.  Se nos retesamos para nos proteger de um choque ou de um golpe, ou se nos endurecemos para não sentir dor, nosso estado físico é como o gelo. Se nos derretemos com o amor ou nos dissolvemos em lágrimas, nosso estado é líquido. As sensações de fome, vazio, anseio, desejo, seguidas de satisfação e plenitude são determinadas pelo estado visceral.

Para Regina Favre, responsável pela apresentação do livro, na edição de 1991, da Summus, esse título “ilustra e pensa, pela primeira vez, um corpo que não é o corpo  da vegetoterapia, nem o corpo simbólico, nem a imagem corporal, nem o corpo das anatomias orientais, mas uma arquitetura tissular, geneticamente programada, finita, em permanente construção e desconstrução, pulsando segundo afetos, como tubos dentro de tubos, com suas câmaras e válvulas, sempre em busca de mais vida, inflando, esvaziando, adensando ou enrijecendo de acordo com seu grau de tolerância aos ritmos da excitação gerada pelas experiências de amor ou decepção, medo ou agressão, agonia ou prazer”. 

 “Sentimentos e emoções, hormônios, corpo e consciência, todos mudam de forma e falam muitas línguas. As formas se cristalizam e liquefazem. Nenhuma se fixa concretamente; alguns processos são como pele ou osso e outros mais fluidos”, afirma o autor.  Para ele, o estudo da forma humana revela sua história genética e emocional. A forma reflete os desafios individuais e como eles afetam o organismo humano.  O orgulho nos enrijece? A vergonha nos encolhe?  Endurecemos ou nos preservamos com a privação? Colapsamos?

Stanley defende que o corpo tem um projeto e existe um diálogo sensorial entre todas as suas partes. Os órgãos agem em bloco para dar um sentimento de unidade ao ser. Os ossos introduzem sensações de compressão e distensão. Os músculos geram sensações de ritmo, contenção, continência, liberação, encurtamento e alongamento. Os intestinos introduzem sensação de inchaço, plenitude e esvaziamento e assim por diante.

Como são as principais estruturas emocionais

Além da genética, cada parte do corpo desenvolve-se também em função do histórico de vida emocional que o indivíduo vai acumulando ao longo da vida. Em seu livro, Stanley Kaleman mostra essa conexão e classifica as pessoas em quatro tipos de estruturas principais: rígido, denso, inchado e em colapso. Existem tipos puros, mas as estruturas costumam se misturar. Confira:

A estrutura rígida

É o tipo obediente e controlado. Exerce o papel de herói, dominador e lutador. A aparência é puxada para cima, contraída, congelada, superfirme. É atento, otimista, confiável e generoso. A sua fisionomia lembra o estilo atlético e agressivo. O estado de espírito é norteado por combate, independência, dominação, desempenho e polarização. Seus medos principais são a rejeição, o ataque, o ser pequeno, o abuso, a dependência, ser subjugado e perder o controle.

A estrutura densa

É meio compactado, empurrado para baixo, cheio, superfirme e pressurizado. O tronco costuma ser mais largo, meio atravancado e as pernas curtas, aparenta ser ao mesmo tempo desafiador e envergonhado. Exerce o papel de resistente, defensivo e lutador. O estado de espírito é guiado por uma rebelião intensa, luta, defesa e repulsa. É leal, protetor e determinado. Tem medo de atacar, tornar-se maior, ficar independente e fora de controle. Também hesita diante dos vínculos a serem estabelecidos.

A estrutura inchada

Sua aparência é estufada, inflada, tendo o formato de uma pera gelatinosa. Costuma ser sedutor, explorador, solidário e absorto em si mesmo. É invasivo e manipulador, um verdadeiro camaleão. Tem medo de ser pequeno, estar vazio, não pertencer, não ser incorporado.

A estrutura em colapso

É obediente, solidário e receptivo, porém tem medo da impotência, da hostilidade e de ser grande. Cético e isolado, tem a aparência desmoronada e disforme. Meio corcunda, dando a impressão de abatimento geral. Costuma ser desinteressado, fantasioso e apático. 

Fonte: Anatomia emocional, de Stanley Kelema, Summus editoria, 1991.

SHARE