Onde estamos e para onde vamos

Onde estamos e para onde vamos

A Covid-19 também impactou a vida de pessoas que sofrem com outras doenças e promete mudar a forma como estamos acostumados a ser atendidos nos consultórios

Cirurgias eletivas canceladas ou postergadas, exames desmarcados e consultas adiadas foram apenas algumas das medidas tomadas na área da Saúde por causa da pandemia, provocada pelo novo coronavírus. No mês de março, a orientação do Ministério da Saúde foi que cirurgias eletivas fossem adiadas, e até mesmo alguns tipos de transplante de órgãos. Além disso, muitas clínicas médicas, consultórios e laboratórios deixaram de atender ao público.
Grande parte dos leitos de hospitais foi destinada para o tratamento da nova doença e, em diversos casos, pacientes acometidos por outros males deixaram de procurar assistência médica por medo de serem contaminados pela Covid-19. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), 70% das cirurgias de câncer foram canceladas no Brasil entre 11 de março e 11 de maio de 2020, o que corresponde a 116 mil procedimentos.
Para a gerente de Atenção à Saúde da Unimed do Estado do Paraná, a médica Oáidia Serman, toda a preocupação gerada pela pandemia tem fundamento, mas não se pode esquecer o resto, o pode provocar consequências desastrosas para a saúde da população.
“Não podemos permitir é que outras formas de doenças crônicas e agudas, que têm mortalidade e letalidades maiores do que o coronavírus, e que são mais prevalentes, sejam menosprezadas, pois não procurar a assistência adequada para doenças como infartos, derrames, doenças crônicas com alta morbidade e ainda cânceres, simplesmente por medo é algo muito mais grave e danoso que os números da pandemia”, ressalta.

Proporção
A médica ainda destaca que a preocupação e o temor são necessários até certo ponto, até mesmo para que as pessoas realmente se valham das medidas preventivas, mas não podemos ir o outro extremo e, durante o isolamento social, afastarmos-nos dos recursos disponíveis para uma assistência de saúde de qualidade como um todo.
A preocupação dos especialistas é que esses pacientes sofram uma agudização do quadro clínico, o que poderia levar ao agravamento da saúde. Assim, algo que era eletivo pode se tornar uma urgência.
Na Unimed Federação, o Programa de Gestão de Crônicos (PGDC) atende em torno de 2000 pessoas. Em uma pesquisa, a cooperativa comparou três meses de 2020 (março a maio) com o mesmo período do ano anterior, considerando consultas eletivas e urgência, além de exames laboratoriais, e mostrou que houve redução de 41% no total de consultas eletivas, e de 34% nas consultas de emergência, reduzindo em 58% o indicador de consultas per capita nesse período. Nos exames laboratoriais, a redução foi de 55%.
“Os esforços e ações devem ser voltados ao objetivo de minimizar o dito ‘efeito pós- pandemia’, mas, sim, pode ser que tenhamos uma descompensação clínica em alguns casos, mesmo com todo nosso esforço em contrário. Além de podermos ter um aumento de mortalidade e morbidade pela deficiência assistencial durante certo período”, avalia Oáidia.

Retomada
Para o médico Marlus Volney de Morais, gerente de Estratégias e Regulação de Saúde da Unimed Federação, a insegurança e o receio de frequentar ambientes passíveis de contágio vão remeter pacientes a procurar acesso por outro caminho, com menor risco de contágio: a telessaúde ou teleassistência.
“Essa é uma das grandes mudanças no sistema de atendimento. Essa via de assistência aumentará o acesso e a velocidade para que as pessoas consigam apresentar e discutir suas necessidades em saúde”, afirma o médico.
Mesmo com essa alternativa, consultórios e clínicas se preparam para a retomada da rotina de atendimentos, com medidas mais focadas em critérios para uma segurança redobrada. O gerente explica que no dia a dia os atendimentos deverão ser divididos em presenciais e telessaúde, nas suas principais modalidades: teleorientação, telemonitoramento e teleconsulta sendo que essa última ainda não está adequadamente regulamentada para os médicos, mas está regulamentada para outras profissões como a psicologia.
Ele observa que no caso dos atendimentos presenciais, a pré-consulta para agendamentos deve gerar uma orientação para que sejam evitadas salas cheias nos primeiros meses, conservando-se os cuidados relativos à pandemia – máscaras, higienizadores das mãos e objetos e distanciamento.
“A saúde de médicos e pacientes será garantida da forma como está se fazendo hoje, porém sem o rigor das EPIs próprias do atendimento a pacientes com sintomas gripais; entendo que o hábito do uso de máscaras, face shield, em alguns casos, e álcool gel vai ser mais rigoroso e mais frequente”, comenta.

Oaidia Serman – cautela e atenção
Marlus Morais: a pré-consulta para agendamentos deve gerar uma orientação

RETORNO AO CONSULTÓRIO

Para garantir a saúde dos profissionais e dos pacientes nos períodos de pandemia e pós-pandemia, a Unimed Paraná preparou um plano de retorno às atividades de consultório, com diferentes protocolos e medidas de segurança que asseguram o distanciamento social.
Para isso, a equipe técnica da cooperativa fez um estudo dos materiais já disponíveis e inseriu mais alguns tópicos, com informações correspondentes às normativas de órgãos reguladores e de tradicionais instituições de saúde. Todos os protocolos podem ser conferidos em www.unimed.me/diretrizescovid19.

Protocolos
O documento traz orientações para todos os envolvidos no processo de retomada das atividades de consultório, como cooperados, clientes e secretárias. Tais recomendações seguem medidas de segurança estipuladas pela OMS, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), distância mínima de dois metros entre os envolvidos (colegas e pacientes), e a higienização frequente de mãos e superfícies.
Além de protocolo para disposição de cadeiras e lixeiras em ambientes de espera e recepção, o documento traz orientações sobre o contato telefônico com o paciente e a maneira mais segura de realizar o atendimento presencial. O cooperado tem, ainda, a obrigação de notificar compulsoriamente todos os casos suspeitos e/ou confirmados à secretaria de saúde do município ou do estado.

Agendamento
A orientação é considerar o intervalo entre a saída e a entrada dos pacientes com, pelo menos, 15 minutos de pausa para fazer a limpeza dos locais de acesso. O ideal é avaliar a possibilidade de fluxos e horários diversos, dividindo o grupo de pacientes entre “com sintomas gripais” e “sem sintomas gripais”.

Atendimento a paciente com sintoma gripal
Em caso de atendimento a paciente com sintoma gripal, pede-se que a pessoa responsável pelo agendamento informe essa condição antes mesmo de comparecer à consulta. A recepção ou a enfermagem deve, então, realizar o acolhimento e o direcionamento devido.
Se o paciente apresentar sintomas graves ou condição de risco, deve ser orientado a procurar a rede hospitalar. Caso não haja necessidade de internamento, mas seja constatada a doença ou o contato, o paciente deve ser monitorado até o fim do isolamento. Caso seja uma síndrome gripal , a situação deve ser investigada e, se necessário, realizar o exame de RT-PCR (mais específico) e outros que o médico -assistente julgar necessários.

RT-PCR POSITIVO: isolamento social por 14 dias a partir da data do início dos sintomas; monitoramento diário até o fim do isolamento; notificação à autoridade sanitária para a medidas de bloqueio; avaliação médica da possibilidade de indicação de trabalho remoto, dependendo do tipo de atividade laboral do paciente.

RT-PCR NEGATIVO: orientação ao paciente sobre os cuidados, até a melhora clínica; monitoramento diário por 7 dias.

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