Mens sana in corpore sano

 “Famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal. A frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida”

Não raro as pessoas fogem de terapias e congêneres. Nos dias atuais, muitos de nós, ainda, tem medo de ser tratado por louco ou coisas do tipo, por frequentar psiquiatras e psicólogos, tomar remédios para depressão, ansiedade, etc.
Parece óbvio, mas muita gente ainda não percebe que não somos nós que estamos loucos, é a vida que ficou louca. Tanto e de tal forma que buscar ajuda não é loucura, é pura sanidade. A professora Maria Virginia Filomena Cremasco, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutora na especialidade, falou durante o 27º Suespar sobre saúde mental, lembrando que esgotamento e depressão “são estados subjetivos de nossa atualidade voltada, principalmente, ao desempenho, ao sucesso e ao imperativo de felicidade, podendo por vezes ser a expressão psicopatológica da possibilidade de existir socialmente”.
Já não se sabe o que se é. Os papeis são pré-determinados por uma exigência que, muitas vezes, estão além/aquém de nossos desejos e necessidades. Maria Virgínia citou Byung-Chul Han, autor do livro a Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. Resenha: Geilson Fernandes de Oliveira.
“Hoje, segundo Han, vive-se na sociedade do desempenho. Nesse sentido, em vez das prisões, hospitais, fábricas e manicômios, se tem academias, shoppings centers, bancos e laboratórios de genética que afirmam o potencial dos sujeitos na produção de si mesmos, objetivando comportamentos cada vez mais bem-sucedidos e satisfatórios”, explica.
Segundo ele, o que antes era tido como suficiente, agora já não mais o é, “e superar-se continuamente constitui-se como uma ética. Dessa forma, qualquer sentimento ou emoção de ordem negativa logo são interditadas, quiçá excluídas, visando à maximização do desempenho. Produz-se, assim, um modo de vida que desconsidera a potência produtiva da raiva, tristeza, desamparo e outros estados de ânimos vistos pelo viés do desempenho como negativos para a produção dos sujeitos”.
A tese de Han é a ideia de que o mundo ocidental vem se tornando uma sociedade do cansaço. Nesse modelo de sociedade, “no lugar de proibição, mandamento ou lei, entram projeto, iniciativa e motivação” (p. 24). É justamente aí que o discurso de poder ilimitado entra em cena, já que o indivíduo é um empreendedor de si mesmo, metáfora que dialoga de modo direto com o regime neoliberal, no qual o selfmad man (o homem que faz a si mesmo de modo contínuo) é sua figura ideal-típica.
Segundo Maria Virgínia, o pressuposto do desempenho e da autodisciplina também diz respeito à auto-exploração e sua premissa de resultados cada vez mais exitosos para o próprio sujeito – o que não deixa de render bons frutos para o mercado. O problema do sujeito do desempenho é que ele é explorador de si mesmo. Ainda citando, Han, Maria Virgínia destaca que “o sujeito do desempenho está livre da instância externa de domínio que o obriga a trabalhar ou que poderia explorá-lo. É senhor soberano de si mesmo. Ele se entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho. O que o torna explorado e ao mesmo tempo o explorador. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos”. Dessa forma, com uma outra configuração social, outras patologias surgem: agora não mais loucos e delinquentes, mas depressivos e fracassados. As tristezas e a depressão, embora distintas, são reações frente às perdas e aos estados de luto: pela perda de algo, de uma pessoa ou de um ideal. Se, ao longo de nossas vidas, essas perdas são inevitáveis, como nos situamos em relação a elas? Quando a vida perde o sentido? Maria Virginia lembra-nos que pre-cisamos falar sobre isso.
Segundo a professora, no livro Dois grandes caminhos para se abordar o tema- Depressão e Melancolia, Urania Tourinho Peres (2010) fala das abordagens da psicanálise e da psiquiatria biológica. A primeira trata do desamparo fundamental, a complexa relação com a perda, a falta e o vazio estrutural do ser humano. A outra, da insuficiência biológica, do déficit neuro-hormonal, e traz a promessa de cura, com o isolamento de uma molécula.
Diferente da depressão, que é um estado patológico, a tristeza é vista como “um mal mais profundo ligado à uma solidão existencial própria a todos os homens e faz parte de cada um de nós. “É ingrediente que nos constitui, e sem o qual não tomaríamos consistência, pois somos todos, enquanto seres falantes, forjados por uma perda, modelados por uma falta resultante de nossa retirada do universo natureza. É por isso que as separações, ou – a separação da mãe, quem sabe, mãe-terra, mãe-nutriente-lançando As tristezas e a depressão, embora distintas, são reações frente às perdas e aos estados de luto: pela perda de algo, de uma pessoa ou de um ideal. Se, ao longo de nossas vidas, essas perdas são inevitáveis, como nos situamos em relação a elas? Quando a vida perde o sentido? Maria Virginia lembra-nos que pre-cisamos falar sobre isso.
Segundo a professora, no livro Dois grandes caminhos para se abordar o tema- Depressão e Melancolia, Urania Tourinho Peres (2010) fala das abordagens da psicanálise e da psiquiatria biológica. A primeira trata do desamparo fundamental, a complexa relação com a perda, a falta e o vazio estrutural do ser humano. A outra, da insuficiência biológica, do déficit neuro-hormonal, e traz a promessa de cura, com o isolamento de uma molécula.
As tristezas e a depressão, embora distintas, são reações frente às perdas e aos estados de luto: pela perda de algo, de uma pessoa ou de um ideal. Se, ao longo de nossas vidas, essas perdas são inevitáveis, como nos situamos em relação a elas? Quando a vida perde o sentido? Maria Virginia lembra-nos que precisamos falar sobre isso.
Segundo a professora, no livro Dois grandes caminhos para se abordar o tema- Depressão e Melancolia, Urania Tourinho Peres (2010) fala das abordagens da psicanálise e da psiquiatria biológica. A primeira trata do desamparo fundamental, a complexa relação com a perda, a falta e o vazio estrutural do ser humano. A outra, da insuficiência biológica, do déficit neuro-hormonal, e traz a promessa de cura, com o isolamento de uma molécula.
Diferente da depressão, que é um estado patológico, a tristeza é vista como “um mal mais profundo ligado à uma solidão existencial própria a todos os homens e faz parte de cada um de nós. “É ingrediente que nos constitui, e sem o qual não tomaríamos consistência, pois somos todos, enquanto seres falantes, forjados por uma perda, modelados por uma falta resultante de nossa retirada do universo natureza. É por isso que as separações, ou – a separação da mãe, quem sabe, mãe-terra, mãe-nutriente-lançando o homem no desamparo, são muito frequentemente evocadas na origem deste mal-estar”, explica.  Defesa, perdas, luto, criatividade, dinamicidade, realidades fatual e psíquicas, pusionalidade, flexibilidade, frustrações e sexualidade foram alguns temas abordados por Maria Virgínia no enfrentamento da depressão. Maria Virginia conclui sua apresentação destacando uma recomendação de Freud. “Em face do desamparo do sujeito na cultura, não existe cura possível, somente a perspectiva de que cada um constitua um destino subjetivo, erótico e sublimatório, capaz de lidar com os conflitos insuperáveis. Ou seja, resta a possibilidade de o sujeito sustentar e mobilizar seus desejos de maneira a retirar do real, das relações com os outros a efetividade e a regulação singular de seu prazer” .

1 Pastore, Jassanan Amoroso Dias. (2013). É possível uma existência sem excesso?. Ide, 35(55), 43-58. Recuperado em 02 de junho de 2019, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010131062013000100005&lng=pt&tlng=pt.

Professora Maria Virginia Filomena Cremasco, da Universidade Federal do Paraná – UFPR, doutora na especialidade
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