Internet: vilã ou aliada da saúde?

Internet: vilã ou aliada da saúde?

Projeto de pesquisa da Fiocruz estuda quais são os impactos do amplo acesso à informação, disponível na internet, na relação médico-paciente

Bastam algumas buscas na internet e fica fácil encontrar iniciativas que visam facilitar o acesso de qualquer cidadão a informações de saúde. São aplicativos com objetivo de conectar pacientes a médicos e agendar consultas, blogs, sites e canais de vídeos criados com o intuito de compartilhamento de experiências e informações. Além de trazer benefícios para os cidadãos, essa tecnologia proporciona diversas facilidades para os médicos e para os avanços da medicina como um todo.
Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C), divulgada no início de 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o Brasil fechou 2016 com 116 milhões de pessoas conectadas à internet, o equivalente a 64,7% da população com idade acima de 10 anos.
De acordo André Pereira Neto, doutor em Saúde Coletiva, professor da Fundação Oswaldo Cruz e autor de pesquisa sobre o impacto da internet na relação médico-paciente e sobre avaliação de qualidade de informação em sites de saúde, os impactos da internet na saúde são, sobretudo, o empoderamento do cidadão. “Ao acessar e compartilhar informações, o paciente cada vez mais aumenta suas capacidades e domínio de autocuidado no processo saúde-doença”, afirma.
Segundo a pesquisa “Empoderamento do Paciente – importância e desafios”, realizada pela Abbott, empresa global de cuidados para a saúde, a busca por informação é ferramenta fundamental para o empoderamento das pessoas com diabetes ou hipertensão: 40% acessam sites de buscas e 28% procuram em sites específicos informações sobre a doença, prevenção, tratamento, medicamentos e profissionais de saúde.
Entretanto, ainda de acordo com o levantamento realizado em 2017 com 960 pessoas, entre homens e mulheres, acima de 18 anos, de capitais de todas as regiões brasileiras diagnosticadas com hipertensão ou diabetes, a consulta na internet tem apenas caráter complementar, já que não substitui o contato com o médico. Grande parte dos entrevistados (92%) faz tratamento com acompanhamento médico e 85% confiam nos profissionais de saúde.

Relação médico-paciente
Conforme explica o professor Pereira Neto, a grande e mais representativa alteração é exatamente na relação dos médicos com os pacientes. Tradicionalmente a relação médico paciente é vertical, em que o médico tem domínio e poder de orientação e o paciente tem uma posição mais submissa e passiva. “Com a internet e o processo de empoderamento do cidadão por meio da informação, essa relação tende a ficar mais igualitária. E esse é o grande desafio nesse novo padrão de relacionamento, em que ocorre um processo de decisão compartilhada. Não há mais como o médico tomar decisão pelo paciente sem que haja esse diálogo mais horizontal”, destaca.
Por outro lado, essa característica da internet de permitir que se produza e se acesse informação gera um problema grave que é a qualidade da informação, conforme destaca o professor. Um conteúdo inadequado ou desatualizado pode gerar problemas tanto para médicos e profissionais da saúde como para pacientes.
Na análise de Pereira Neto, não há como saber se uma informação é mais ou menos verídica. Por isso, ele defende a criação de uma agência verificadora de sites não apenas para averiguar se a informação é verdadeira, como também para ver se ela é legível, compreensível e se o site ou ambiente virtual obedece às normas de ambiente virtual que estão sendo utilizadas no mundo inteiro.
“Na Fiocruz, temos um projeto de avaliação de qualidade de informação. Nós defendemos que a Fundação Oswaldo Cruz seja uma agência certificadora de avaliação de sites de saúde. Nós desenvolvemos experiências nesse sentido e essa avaliação é verdadeiramente um desafio”, compartilha o professor.

Iniciativas
O objetivo das iniciativas é o mesmo: ampliar o acesso de médicos, profissionais de saúde e pacientes a informações práticas e de qualidade, desde grupos em redes sociais, nos quais portadores de doenças crônicas como Aids, diabetes e hepatite C compartilham informações e experiências, até iniciativas maiores criadas por empresas, instituições de ensino e órgãos governamentais.
“Todos nós, médicos ou não médicos buscamos a internet e, sobretudo, o Google antes de qualquer outra coisa. Eu acho que as iniciativas mais importantes que podem trazer benefício para a área médica são os cursos e atividades de educação a distância que podem ser feitos para os médicos e também a telemedicina”, opina.

Moradores de manguinhos participando da alfabetização digital

Pontos positivos

• Aumento do autocuidado
• Empoderamento do cidadão
• Adesão ao tratamento
• Decisão compartilhada
• Maior atualização profissional
• Compartilhamento de
informações entre médicos

Pontos negativos

• Reações adversas
• Vulnerabilidade da informação
• Questionamento do tratamento

Equipe de profissionais do LAISS
Prof. André Pereira Neto, coordenador do LAISS
SHARE